domingo, 21 de outubro de 2012

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI


Praça de São Pedro
Domingo, 21 de Outubro de 2012
O Filho do homem veio para servir e dar a sua vida como resgate para muitos (cf. Mc 10,45)
Venerados irmãos,
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje a Igreja escuta mais uma vez estas palavras de Jesus, pronunciadas durante o caminho rumo a Jerusalém, onde devia cumprir-se o seu mistério de paixão, morte e ressurreição. São palavras que manifestam o sentido da missão de Cristo na terra, marcada pela sua imolação, pela sua doação total. Neste terceiro domingo de outubro, no qual se celebrar o Dia Mundial das Missões, a Igreja as escuta com uma intensidade particular e reaviva a consciência de viver totalmente em um perene estado de serviço ao homem e ao Evangelho, como Aquele que se ofereceu a si mesmo até o sacrifício da vida.
Dirijo a minha cordial saudação a todos vós, que encheis a Praça de São Pedro, nomeadamente as Delegações oficiais e os peregrinos vindos para festejar os novos sete Santos. Saúdo com afeto os Cardeais e Bispos que nestes dias estão participando da Assembléia sinodal sobre a Nova Evangelização. É providencial a coincidência entre esta Assembléia e o Dia das Missões; e a Palavra de Deus que acabamos de escutar se mostra iluminadora para ambas. Esta nos mostra o estilo do evangelizador, chamado a testemunhar e anunciar a mensagem cristã conformando-se a Jesus Cristo, seguindo a Seu mesma vida.
O Filho do homem veio para servir e dar a sua vida como resgate para muitos (cf. Mc 10,45)
Estas palavras constituíram o programa de vida dos sete beatos que a Igreja hoje inscreve solenemente na gloriosa fileira dos Santos. Com coragem heróica eles consumiram a sua existência na consagração total a Deus e no serviço generoso aos irmãos. São filhos e filhas da Igreja, que escolheram a vida do serviço seguindo o Senhor. A santidade na Igreja teve sempre a sua fonte no mistério da Redenção, que já prefigurava o profeta Isaias na primeira Leitura: o Servo do Senhor, o justo que «fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas» (Is 53,11), este Servo é Jesus Cristo, crucificado, ressuscitado e vivo na glória. A celebração hodierna constitui uma confirmação eloquente dessa misteriosa realidade salvífica. A tenaz profissão de fé destes sete discípulos generosos de Cristo, a sua conformação ao Filho do Homem resplandece hoje em toda a Igreja.
Jacques Berthie, nascido em 1838, na França, foi desde muito cedo um enamorado de Jesus Cristo. Durante o seu ministério paroquial, desejou ardentemente salvar as almas. Ao fazer-se jesuíta, queria percorrer o mundo para a glória de Deus. Pastor incansável na Ilha de Santa Maria e depois em Madagascar, lutou contra a injustiça, levando alívio para os pobres e enfermos. Os malgaxes o consideravam um sacerdote vindo do céu, e diziam: Tu és o nosso “pai e mãe”! Ele sefez tudo para todos, haurindo na oração e no amor do Coração de Jesus a força humana e sacerdotal para enfrentar o martírio, em 1896. Morreu dizendo: «Prefiro antes morrer que renunciar à minha fé». Queridos amigos, que a vida deste evangelizador seja um encorajamento e um modelo para os sacerdotes, para que sejam homens de Deus como ele o foi! Que o seu exemplo ajude os numerosos cristãos que são perseguidos por causa da sua fé nos dias de hoje! Que a sua intercessão, durante este ano da fé, produza frutos em Madagascar e no Continente africano! Que Deus abençoe o povo malgaxe!
Pedro Calungsod nasceu aproximadamente no ano 1654, na região de Visayas, nas Filipinas. Seu amor a Cristo o inspirou a preparar-se como catequista com os missionários jesuítas da região. Em 1668, junto com outros dois jovens catequistas, acompanhou o Padre Diego Luiz de San Vitores para as Ilhas Marianas com o fim de evangelizar o povo Chamorro. Nesse lugar, a vida era difícil e os missionários enfrentaram a perseguição nascida da inveja e de calunias. Pedro, contudo, demonstrou uma grande fé e caridade, e continuou catequizando os seus muitos convertidos, dando testemunho de Cristo através de uma vida de pureza e dedicação ao Evangelho. O seu desejo de ganhar almas para Cristo se sobrepunha a tudo, e isso o levou a aceitar decididamente o martírio. Morreu no dia 2 de abril de 1672. Algumas testemunhas contaram que Pedro poderia ter fugido para um lugar seguro, mas escolheu permanecer ao lado do Padre Diego. O sacerdote, antes de ser morto, pôde dar a absolvição a Pedro. Que o exemplo e o testemunho corajoso de Pedro Calungsod inspire o dileto povo das Filipinas a anunciar corajosamente o Reino e ganhar almas para Deus!
Giovanni Battista Piamarta, sacerdote da Diocese de Brescia, foi um grande apóstolo da caridade e da juventude. Percebia a necessidade de uma presença cultural e social do catolicismo no mundo moderno, por isso se dedicou ao progresso cristão, moral e profissional das novas gerações, com a sua esplêndida humanidade e bondade. Animado por uma confiança inabalável na Providência Divina e de um profundo espírito de sacrifício, enfrentou dificuldades e fatigas para dar vida a diversas obras apostólicas, entre as quais: o Instituto dos pequenos artesãos, a Editora Queriniana, a Congregação masculina da Sagrada Família de Nazaré e a Congregação das Humildes Servas do Senhor. O segredo da sua vida, intensa e ativa, residia nas longas horas que ele dedicava à oração. Quando estava sobrecarregado pelo trabalho, aumentava o tempo do encontro, de coração a coração, com o Senhor. Demorava-se de muito bom grado junto do Santíssimo Sacramento, meditando a paixão, morte e ressurreição de Cristo, para alcançar a força espiritual e voltar a lançar-se, sempre com novas iniciativas pastorais, à conquista do coração das pessoas, sobretudo dos jovens, para levá-los de volta para as fontes da vida.
«Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois, em vós, nós esperamos!» Com essas palavras, a liturgia nos convida a fazer nosso este hino a Deus criador e providente, aceitando o seu plano nas nossas vidas. Assim o fez Santa Maria del Carmelo Salles y Barangueras, religiosa nascida em Vic, Espanha, em 1848. Vendo a sua esperança preenchida, após muitas dificuldades, ao contemplar o progresso da Congregação das Religiosas Concepcionistas Missionárias do Ensino, pôde cantar junto com a Mãe de Deus: «Seu amor de geração em geração, chega a todos que o respeitam». A sua obra educativa, confiada à Virgem Imaculada, continua a dar frutos abundantes entre os jovens e através da entrega generosa das suas filhas que, como ela, se confiam ao Deus que pode tudo.
Passo agora para Marianne Cope, nascida em 1838 em Heppenheim, na Alemanha. Com apenas um ano de vida, foi levada para os Estados Unidos, e em 1862 entrou na Ordem Terceira Regular de São Francisco, em Siracusa, Nova Iorque. Mais tarde, como Superiora geral da sua congregação, Madre Marianne abraçou voluntariamente a chamada para ir cuidar dos leprosos no Havaí, depois da recusa de muitos. Ela partiu, junto com seis irmãs da sua congregação, para administrar pessoalmente um hospital em Oahu, fundando em seguida o Hospital Mamulani, em Maui, e abrindo uma casa para meninas de pais leprosos. Cinco anos depois, aceitou o convite para abrir uma casa para mulheres e meninas na Ilha de Molokai, partindo com coragem e, encerrando assim seu contato com o mundo exterior. Ali, cuidou do Padre Damião, então já famoso pelo seu trabalho heróico com os leprosos, assistindo-o até a sua morte e assumindo o seu trabalho com os leprosos. Em uma época em que pouco se podia fazer por aqueles que sofriam dessa terrível doença, Marianne Cope demonstrou um imenso amor, coragem e entusiasmo. Ela é um exemplo luminoso e valioso da melhor tradição de religiosas católicas dedicadas à enfermagem e do espírito do seu amado São Francisco de Assis.
Kateri Tekakwitha nasceu no que hoje é o Estado de Nova Iorque, em 1656, filha de pai Mohawk e de mãe Algoquin cristã, que lhe transmitiu a fé no Deus vivo. Foi batizada aos 20 anos de idade, para escapar da perseguição, se refugiou na Missão São Francisco Xavier, perto de Montreal. Ali ela trabalhou, fiel às tradições culturais do seu povo, embora renunciando as convicções religiosas deste, até a sua morte com 24 anos. Levando uma vida simples, Kateri permaneceu fiel ao seu amor por Jesus, à oração e à Missa diária. O seu maior desejo era saber e fazer aquilo que agradava a Deus.
Kateri impressiona-nos pela ação da graça na sua vida, carente de apoios externos, e pela firmeza na sua vocação tão particular na sua cultura. Nela, fé e cultura se enriqueceram mutuamente! Possa o seu exemplo nos ajudar a viver lá onde nos encontremos, sem renunciar àquilo que somos, amando a Jesus! Santa Kateri, protetora do Canadá e primeira santa ameríndia, nós te confiamos a renovação da fé entre os povos nativos e em toda a América do Norte! Que Deus abençoe ospovos nativos!
A jovem Anna Schäffer, de Mindelstetten, quis entrar em uma congregação missionária. Nascida em uma família humilde, ela conseguiu, trabalhando como doméstica, acumular o dote necessário para poder entrar no convento. Neste emprego, sofreu um grave acidente com queimaduras incuráveis nos seus pés, que a prenderam em um leito pelo resto da vida. Foi assim que o seu quarto de enferma se transformou em uma cela conventual, e o seu sofrimento, em serviço missionário. Inicialmente se revoltou contra o seu destino, mas em seguida, compreendeu que a sua situação era uma chamada amorosa do Crucificado para O seguisse. Fortalecida pela comunhão diária, tornou-se uma intercessora incansável através da oração e um espelho do amor de Deus para as numerosas pessoas que procuravam conselho. Que o seu apostolado de oração e de sofrimento, de oferta e de expiação seja para os crentes de sua terra um exemplo luminoso e que a sua intercessão fortaleça a atuação abençoada dos centros cristãos de curas paliativas para doentes terminais.
Queridos irmãos e irmãs! Estes novos Santos, diferentes pela sua origem, língua, nação e condição social, estão unidos com todo o Povo de Deus no mistério de Salvação de Cristo, o Redentor. Junto a eles, também nós aqui reunidos com os Padres sinodais, provenientes de todas as partes do mundo, proclamamos, com as palavras do salmo, que Senhor é «o nosso auxílio e proteção», e pedimos: «sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos» (Sal 32, 20-22). Que o testemunho dos novos Santos, a sua vida oferecida generosamente por amor a Cristo, possa falar hoje a toda a Igreja, e a sua intercessão possa reforçá-la e sustentá-la na sua missão de anunciar o Evangelho no mundo inteiro.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

São Geraldo Majela

 

HISTÓRIA DA VIDA DE SÃO GERALDO MAJELA
Nasceu em Muro Lucano, povoado da Basilicata, no sul da Itália, no dia 6 de abril de 1726, filho de Domenico Majela e Benedecta Galella.

Seu pai era alfaiate em Muro, mas morre em 1738, quando Geraldo tinha apenas 12 anos. Suas irmãs, mais velhas do que ele, são: Ana, Brígida e Isabel.
SUA INFÂNCIA
Conforme o testemunho de suas próprias irmãs, ele era muito dedicado às devoções, e que também se confessava todos os dias e se disciplinava diariamente.

Aos sete anos, em vista da pobreza da família, dirigia-se à ermida Capodigiano, brincava com o Menino Jesus e dele recebia um pãozinho branco. Somente mais tarde, quando já na congregação, Geraldo compreende quem era aquele menino.

Entregava-se à oração. Sua mãe encarregava-se de educá-lo na fé.
SUA JUVENTUDE
Aos 14 anos, é crismado por Dom Albino na cidade de Muro. O sacramento da crisma tornou-se o sinal da fortaleza e do valor que nortearam toda sua vida. Dom Albino era natural de Muro.

Com o Bispo lá se foi Geraldo para ser seu empregado. Nesse ofício precisou praticar verdadeiro heroísmo.

Dom Albino julgava-se no direito de fazer o que bem entendesse com seu jovem empregado. Fazia-o trabalhar sem descanso e reprovando-o sempre de não fazer tudo o que devia e de fazê-lo mal. Geraldo, por sua parte, tinha para com ele grande respeito e dedicação. Seu espírito de mortificação e penitência encontrou ali um bom lugar de realização.

Aos 18 anos de idade voltou para sua casa. Já era um homem feito e havia crescido também em virtude.

Sua preocupação com os pobres e necessitados era grande, a ponto de se privar do necessário, quando via alguém sofrendo penúria.


SUA VOCAÇÃO
Geraldo sentia que o Senhor havia escolhido para ele um outro lugar. Assim, entra em contato com os capuchinhos, mas em vão solicita ser admitido, mesmo na condição de empregado.

Não é aceito, dada sua saúde precária e sua doentia aparência. Para Geraldo esse golpe foi terrível. Contudo, entrega-se à oração, pedindo a Deus que o encaminhasse para vida religiosa.

Continuou seu trabalho diário para ajudar no sustento da família. Depois de pouco tempo tem seu próprio atelier, no qual sempre sobrava trabalho e também caridade para quem necessitasse. Mas tendo chegado a Muro seu amigo Luca Valpiedi, antigo condiscípulo, parte com ele para ajudá-lo em seu colégio, no cuidado das crianças. Quando tinha 22 anos, chegaram a seu povoado alguns missionários. Eram os Redentoristas, dentre eles achava-se o Irmão Onofre que contou a Geraldo como era a sua vida. Mas percebendo que o jovem estava entusiasmado, mudou de assunto, dizendo-lhe que ele não resistiria àquele tipo de vida.

Pouco tempo depois voltaram os missionários. Entre eles estava o Padre Paulo Cáfaro, que depois de muito vaivém e oposições lhe permite que o acompanhe ao convento.
IRMÃO COADJUTOR
No dia 17 de maio de 1749, Geraldo partia radiante de alegria para a casa de noviciado de Deliceto. Em novembro desse mesmo ano, vestia a batina redentorista e começava sua interiorização na vida religiosa. O Padre Cáfaro seria o seu mestre de noviciado, e também seu diretor espiritual. E sendo esse sacerdote tão severo, contudo, teve de se esforçar por moderar para que Geraldo não se consumisse pelas penitências...

Desde o começo, passou a ser na comunidade um modelo de abnegação e serviço. Trabalhador como só ele; muito dedicado à oração, exemplo de virtudes, tudo isso fez com que ganhasse logo a simpatia e estima de seus confrades. No dia 16 de julho de 1752 fez sua profissão religiosa.
VIDA RELIGIOSA
Já religioso, sua vida desenvolvia-se no cuidado constante de seus deveres comunitários, de um modo especial, prestando serviços a seus irmãos, e na preocupação pelo seguimento de Cristo missionário, anunciando aos pobres a palavra divina.
Sua vida era a concretização das Regras. O respeito por seus coirmãos e em particular pelos superiores (nos quais encarnava a vontade de Deus) atingia os limites de heroicidade. Pensemos como soube calar-se diante de Santo Afonso quando foi caluniado...
SEU ZELO APOSTÓLICO
Sua vida missionária era encarnada, vibrava com todo o povo. Os sofrimentos do próximo fazia-os seus. Foi o irmão dos pobres, tanto em Caposele como nas outras casas nas quais morou. Visitava-os, protegia-os, curava-os, dava-lhes de comer, vestia-os etc.

Ao lado da assistência física, punha sempre a assistência espiritual. A catequese como preparação aos sacramentos ele assumia com carinho e dedicação.

Sua humildade granjeou-lhe a simpatia de leigos e religiosos, de sacerdotes e bispos que encontraram nele o mais douto conselheiro.

Seu amor à igreja era imenso. Dele se desprendia a preocupação pelas vocações. Os conventos de sua época receberam inúmeras religiosas enviadas pelo santo. Do mesmo modo soube conduzir os jovens ao sacerdócio diocesano e regular. Sua vida foi uma entrega total pela redenção.


SEUS ÚLTIMOS DIAS
Geraldo tinha exigido de seu corpo mais do que ele podia dar. Sua saúde estava destruída. A anemia consumia-o e seus pulmões já não trabalhavam como deviam. Contudo, continuou esforçando-se em servir os outros e em enfraquecer sua pessoa.

No dia 16 de outubro de 1755, com apenas 29 anos de idade, e somente 7 na Congregação, entregou a Deus seu espírito.

Seus funerais foram grandiosos e soleníssimos. De Caposele e de todos os povoados vizinhos, a multidão acorreu atropelando-se para despedir-se do santo e solicitar graça por sua intercessão.

E como em vida realizou tantos prodígios, maiores foram os pós morte. Daí a justa piedade popular que por ele sente a Itália, e, outros povos.
A CAMINHO DOS ALTARES
Embora a fé no santo fosse muito grande, contudo, somente em abril de 1839 foi aberto em Muro o processo recolhendo os testemunhos daqueles que o haviam conhecido e daqueles que tinham recebido alguma graça por meio dele.

Em 1847, Sua Santidade Pio IX concedeu-lhe o título de Venerável e em 1893 o Papa Leão XIII o declarou Beato.

Finalmente, no dia 11 de dezembro de 1904, o Papa Pio X canonizou Geraldo Majela em meio a uma magnífica cerimônia, como é de costume em tais ocasiões.

Os biógrafos de São Geraldo pouco se preocuparam em nos mostrar seus traços humanos. A representação que dele temos no-lo mostram como religioso redentorista e nela sua figura é a de um asceta, comumente acompanhada de um crucifixo e de uma caveira.
Fonte: Almanaque de São Geraldo, 2001, pp. 50-55

A Carta Apostólica Porta Fidei comentada


Do Sumo Pontífice Bento XVI
Com a qual se proclama o Ano da Fé



No dia do início do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, iniciamos a publicação do conteúdo da Carta ApostólicaPorta Fidei ('Porta da Fé') em partes, seguidas de comentários e esclarecimentos nossos. Logo abaixo, os três primeiros parágrafos, e, a seguir, o nosso texto. Que seja, de algum modo, útil!


1. A PORTA DA FÉ (cf. At 14, 27), que introduz na vida de Comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela Graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Batismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o Nome de Pai, e se conclui com a passagem, através da morte, para a vida eterna, fruto da Ressurreição do Senhor Jesus, que, com o Dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria Glória os que crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22) (...).

2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do meu pontificado, eu disse: “A Igreja no seu conjunto, e os pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude”. Não poucas vezes, os cristãos sentem maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando-a como um pressuposto óbvio da vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado nos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade, devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.

3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua Fonte, donde jorra Água Viva (cf. Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da Vida, oferecidos como Sustento dos que são seus discípulos (cf. Jo 6, 51). De fato, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, o ensinamento de Jesus: “Trabalhai não pelo alimento que desaparece, mas pelo Alimento que perdura e dá a vida eterna” (Jo 6, 27). E a questão daqueles que O escutavam é a mesma que colocamos nós também hoje: “Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?” (Jo 6, 28). Conhecemos a resposta de Jesus: “A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou” (Jo 6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à salvação. (...) À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé.

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Estes são os três primeiros capítulos da Carta Porta Fidei. Publicaremos, nas próximas semanas, os parágrafos seguintes da Carta, sempre acompanhados de uma breve reflexão. Neste primeiro momento, achamos conveniente esclarecer algumas dúvidas iniciais. No texto a seguir, os trechos entre aspas são citações literais da própria Carta Apostólica.


O que é o Ano da Fé?

É um tempo propício para que todos os fiéis compreendam mais profundamente que o fundamento da fé cristã é “o encontro com um Acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo sentido. É uma ocasião para renovar e redescobrir a fé, e também para experienciar essa fé, na sua integridade e em todo o seu esplendor. “...Nos nossos dias a fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar”, para que o Senhor “conceda a cada um de nós viver a beleza e a alegria de sermos cristãos”. O Ano da Fé “é um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”.


Quando se inicia e quando termina o Ano da Fé?

Inicia-se em 11 de outubro de 2012, data do 50º aniversário de abertura do Concílio Vaticano II e 20º aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica. O encerramento, em 24 de Novembro, é dia da Solenidade de Cristo Rei.


Por que é que o Papa convocou este Ano da Fé?

Por entender que a unidade dos cristãos precisa ser reafirmada em nossos tempos, “devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas”. O objetivo principal deste Ano da Fé é que cada cristão “possa redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo”.


Por que meios chegaremos a esses objetivos, segundo o Papa?

O Santo Padre cita alguns caminhos principais, como intensificar a celebração da fé na Liturgia, especialmente na Eucaristia; dar testemunho da própria fé; redescobrir os conteúdos da própria fé, expostos principalmente no Catecismo da Igreja.


Onde será o Ano da Fé?

O alcance é universal. “Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, assim como também nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo”.

* Além da própria Carta Porta Fidei, você pode ler a Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé, que está disponível no website do Vaticano, disponível neste link. Se preferir, você pode usar o endereço abaixo:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20120106_nota-anno-fede_po.html.
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Pergunta e resposta: a Bíblia e a proibição de imagens


Só para (não) variar, o post sobre imagens na Igreja continua criando confusão na cabeça dos nossos irmãos "evangélicos". - Coloco a palavra "evangélicos" entre aspas porque evangélicos, na verdade, somos nós, católicos. Afinal, não foi a Igreja Católica que produziu, através dos Apóstolos, os Evangelhos? E não foi essa mesma Igreja que canonizou os Evangelhos, revelando a todos os cristãos que livros deveriam ser considerados inspirados por Deus, e quais deveriam ser descartados? Não foi essa mesma Igreja que preservou os Evangelhos dos seus inimigos, enquanto era cruelmente perseguida, no decorrer dos séculos? Como pode um grupo, que surgiu de um protesto (protestante) contra a primeira Igreja de Jesus Cristo, simplesmente se auto-proclamar a "igreja evangélica"?? A Igreja Evangélica de ontem, hoje e sempre é a Igreja Católica e Apostólica! Mas vamos ao tema deste post, que surgiu como resposta a uma pergunta feita por um leitor anônimo...


Pergunta de leitor anônimo: 
"Realmente as pessoas rezavam pros querubins e pra serpente =], mto interessante e aquela parte da Biblia que diz que Jesus é o supremo sacerdote?? que devemos pedir a ele."



Resposta Voz da Igreja: Sim, Jesus é o Supremo Sacerdote. É exatamente nisso que nós, católicos, cremos. Mas não cremos nisso somente porque está escrito na Bíblia, porque crer só no que está na Bíblia seria contrariar a própria Bíblia! Sabe por quê? Porque a Bíblia mesmo diz que a Igreja é a nossa Coluna e o Fundamento da Verdade, e não as Escrituras:

"Escrevo para que saibas como convém andar na Casa de Deus, que é a Igreja do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade". (1 Timóteo 3,15)

Veja que a Bíblia estava sendo escrita para que soubéssemos como nos portar na Igreja! A Igreja é a coluna e o fundamento; outras traduções dizem que é o sutentáculo da Verdade. Percebe? A base da nossa fé é a Igreja instituída por Jesus Cristo, e não a Bíblia sozinha. As Escrituras são sagradas para nós, sim, e são muitíssimo úteis para nos instruir, mas não são e nem nunca foram a base, o único fundamento para os cristãos. Nos primeiros séculos do cristianismo, na Igreja primitiva, a Bíblia simplesmente não existia ainda. E como se orientavam eles? Através da instrução da Igreja, a única Igreja que Cristo deixou, e que tem dois mil anos de idade: a Igreja Católica (Universal).

O grande erro dos que se chamam a si mesmos "evangélicos" é pensar que a Bíblia é mais importante do que a Igreja. Não é! Jesus não escreveu nenhum livro; mas Ele fundou, diretamente, a sua Igreja neste mundo, e garantiu que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (veja Mateus 16, 18).

Acontece que a Bíblia é um livro, e mesmo sendo um livro sagrado, cada pessoa que a lê pode fazer uma interpretação diferente dela. Por isso existem milhares de "igrejas" que ensinam coisas diferentes, e todas elas dizem que a sua interpretação da Bíblia é a certa, que estão sendo guiados por Deus. Agora pense: se fosse para cada um ler a Bíblia, interpretar do seu jeito e sair por aí alugando salão e dizer que é "igreja", Jesus Cristo não teria dado a autoridade sobre sua Doutrina aos Apóstolos, não é mesmo? - Depois de fundar a Igreja sobre Pedro, Jesus disse a este mesmo Pedro (que se tornou o líder dos Apóstolos), que tudo o que ele ligasse na Terra seria ligado no Céu, e o que ele desligasse na Terra seria desligado no Céu (Mateus 16,18). Essa é a autoridade que a Igreja possui na Terra, dada por Jesus Cristo. O Senhor ainda disse aos Apóstolos que os pecados que eles perdoassem seriam perdoados, e os que eles não perdoassem seriam retidos (João 20, 23).

O Cristo não diz em momento algum que deveríamos seguir somente a Bíblia, ao contrário. E a própria Bíblia diz que devemos guardar não só o que foi escrito, mas também aTradição da Igreja:

"Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavras, seja por epístola nossa". (2 Tessalonicenses 2, 15)

As epístolas dos Apóstolos formam a maior parte do Novo Testamento da Bíblia, certo? Então vemos a própria Bíblia afirmando categoricamente que devemos guardar não só a Escritura, mas também a Tradição. Claro como água!

"Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a Tradição que de nós recebeu." (2 Tessalonicenses 3, 6)

As tradições dos homens, a tradição dos antigos fariseus, foi substituída pela Tradição Cristã: Tradição esta que inclui a própria Bíblia Sagrada Cristã. Sim, pois se não fosse a Igreja Católica, nós não teríamos a Bíblia Cristã hoje. Foi a Igreja que, na época das terríveis perseguições, guardou as Escrituras, muitas vezes escondendo-as, preservando-as por séculos. Além disso, quem escreveu a Bíblia (Novo Testamento) foram os Apóstolos; isto é, a Bíblia foi produzida pela Igreja de Cristo! Consegue entender? Deus usou a Igreja para produzir a Bíblia. Portanto, é muito importante entender que a Bíblia é filha da Igreja, e não sua mãe.

Portanto, a autoridade de fé sobre a doutrina de Jesus Cristo está fundamentada na Igreja que Ele edificou sobre a Terra, e não somente na Bíblia Sagrada, que foi produzida, preservada e deve ser interpretada pela própria Igreja. Estando claros esses pontos fundamentais, voltemos à questão das imagens...



"Pastores evangélicos" prostrados diante de uma réplica da Arca da antiga Aliança (descrita no Antigo Testamento). Note-se que a Arca era utilizada como Canal de comunicação com Deus antes da vinda de Cristo, quando Deus ainda não havia estabelecido sua Nova e Eterna Aliança com a humanidade. Qual o sentido de se fazer uma réplica da Arca da antiga Aliança, agora que temos Jesus Cristo, que se doa no Pão e no Vinho, como Ele mesmo ensinou?



Continuando, e voltando à questão das imagens, observe que em nenhuma parte da Bíblia está escrito que as pessoas "rezavam para os querubins", como você disse. Os querubins eram símbolos do Sagrado, entende? As pessoas não deveriam rezar para eles, mas com certeza rezavam diante deles. São coisas completamente diferentes. Assim era também com a serpente de bronze e os bois e leões entalhados no Templo do Senhor. Mas a partir do momento em que os hebreus passaram a adorar a serpente, aí sim ela precisou ser destruída. Está na Bíblia (Números 21).

Logo, entenda: foi Deus mesmo quem ordenou a Moisés que fizesse a serpente. Por que ela teve que ser destruída, então? O que isso significa? Simples: vemos claramente que o problema não está na imagem em si, mas sim no uso que fazemos da imagem. Sem dúvida acreditar que Deus é uma imagem de gesso, ou de qualquer outro material, seria um grande pecado. Mas será que existe alguém assim tão estúpido, em pleno século 21? Será que nós, católicos, somos tão burros a ponto de acharmos que uma estátua é Deus?? Você pensa mesmo isso de nós?

Não negamos que muitas pessoas, que se dizem católicas, prostadas diante de imagens, parecem pedir coisas a elas, e não a Deus, como deveriam. Sim, existe muita gente ignorante neste mundo. Mas não é essa a função das imagens, não é isso que a Igreja Católica ensina. Agora, se colocar diante de uma imagem, consciente de que se trata de um símbolo sagrado, que serve para elevar nossas almas a Deus, isso não é idolatria, nem pecado.

Mais uma vez, há um bom exemplo na Bíblia a esse respeito. É o livro de Josué, do Antigo Testamento: “Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde, diante da Arca do Senhor‚ tanto ele como os anciãos de Israel‚ e cobriram de pó as suas cabeças.” (Josué 7‚ 6).

Josué e os anciãos se prostraram diante da Arca do Senhor, com as imagens de querubins, até a tarde. Estavam adorando a Arca? Seria a Arca um "ídolo"? Seria este um ato de "idolatria"? Não‚ pois a Arca não tem vida própria e nem está no lugar de Deus. A Arca era usada como um sinal visível da Presença de Deus na Terra, e‚ pelo seu significado, eles passaram horas prostrados diante dela, pedindo ao Senhor. Com as imagens católicas é exatamente a mesma coisa. Idolatrar é pretender transferir a Divindade de Deus para uma imagem, como faziam os pagãos. Idolatrar é acreditar que pela imagem (ídolo) seremos salvos, e tratar essa imagem como um ser divino e vivo: esse comportamento sempre foi condenado pela Igreja Católica. Nunca um teólogo católico ensinou que uma imagem ou algum santo fosse Deus, para ser adorado. Se alguém ensinou isso‚ pode ter certeza‚ não era católico. Para ser católico não basta apenas se dizer católico‚ é preciso conhecer e praticar a verdadeira doutrina.

É bem verdade que no nosso Brasil existe muita superstição, e muitos que se dizem católicos gostam de fazer "simpatias" com imagens, colocam-nas de cabeça para baixo, fazem "promessas" a "são longuinho" e outros absurdos como estes. Mas essas coisas não fazem parte da doutrina da Igreja. As pessoas que praticam tais coisas‚ na verdade‚ não sabem o que são.

Agora veja: quantos escândalos temos visto envolvendo pastores "evangélicos" e charlatanismo, lavagem de dinheiro, desvio de doações, formação de quadrilha, tráfico de drogas e até de armas, etc? Está nos jornais e noticiários, na internet... Mas seria justo julgar todos os membros de comunidades "evangélicas" com base nesses exemplos? Não? Bem, então pedimos por favor, parem de fazer isso conosco.

A Paz de Cristo seja em sua vida, leitor anônimo, e a Luz do Senhor ilumine o seu discernimento. Quem sabe um dia ainda não nos encontraremos, louvando ao Senhor debaixo do mesmo teto?

Teologia da prosperidade


Adoração ou tentativa de barganha com Deus? Servir a Deus ou ser servido por Deus? Honrar ou ser honrado? Ir à igreja buscar a Deus ou para ficar rico? A teologia da prosperidade é bíblica?



“Leilões da fé”: assim ficaram popularmente conhecidos os cultos, tidos como religiosos, em que se propõe a barganha com Deus, na propagação de ensinamentos do tipo ‘quem der mais será mais abençoado’: Esta é a base da pregação dos que promovem a malfadada “teologia da prosperidade”, uma proposta de se servir a Deus não por amor ou devoção, mas com a intenção de ser recompensado.

Segundo essa linha de pensamento, - que por incrível que pareça é defendida por indivíduos que se autoproclamam “cristãos”, - se você frequentar tal “igreja” e ouvir o que diz o “pastor”, pagando o dízimo e fazendo muitas ofertas, você será ricamente abençoado. Se tiver problemas conjugais, eles serão sanados. Se tiver algum desejo material, como um carro importado, uma viagem, aquela reforma da casa ou montar uma empresa, ele será realizado. Deus espera que você demonstre sua fidelidade fazendo polpudas doações financeiras; em troca, verá todos os seus desejos e vaidades serem recompensados, e viverá com saúde uma longa e próspera existência nesta terra...

Mas como essa história começou? Especialistas apontam que a teologia da prosperidade surgiu nos Estados Unidos, nas décadas de 1950/60. De acordo com o Dr. Leonildo Silveira Campos, sociólogo e professor da Universidade Metodista de São Paulo, trata-se de um conjunto de crenças “que afirma ser legítimo ao crente buscar resultados, ter fortuna favorável e enriquecer, obtendo o favorecimento divino para a sua vida material”. O teólogo Paul Freston observa que “o princípio básico da teologia da prosperidade é a doação financeira, entendida não como um ato de gratidão ou devolução a Deus pelos frutos da terra e do trabalho (como no contexto bíblico), mas como um investimento. Devemos dar a Deus para que ele nos devolva com lucro, em dobro”.

Observando de perto as propostas da teologia da prosperidade, encontramos sérios motivos para preocupação. As promessas de felicidade terrena encontram solo fértil nos países em que existe um grande nível de exclusão social, o que possibilita a manipulação de mentes e corações simples em nome da fé. Além disso, sob essa perspectiva, a religião assume a lógica do consumo e do mercado, para a qual a dignidade do ser humano depende daquilo que ele tem, e não daquilo que ele é. Isso leva à ideia, equivocada e perigosa, de que ter mais dinheiro significa ser mais amado por Deus, o que por sua vez é antibíblico e contrário à proposta e ao exemplo de vida de Jesus Cristo.

É fácil notar que a teologia da prosperidade busca transformar a sublime mensagem dos Evangelhos em apenas mais um item da malfadada cultura do consumo exacerbado, levando a uma fé individualista e egoísta, para a qual o mais importante é a felicidade pessoal, com o bem da coletividade relegado a segundo plano. A lógica da Teologia da Prosperidade se fundamenta nas promessas de sucesso material e financeiro para quem é fiel a Deus: ensina que o nível de sucesso depende do valor da contribuição financeira. Esse discurso apresenta, claramente, uma proposta de troca, de barganha entre o fiel e Deus. E como Deus não vem pessoalmente receber as doações, elas devem ser entregues àqueles que se colocam como representantes do Divino.


Famoso "bispo evangélico" prostrado diante das pilhas de dinheiro oferdadas durante um "mega culto": idolatria a Mamon?

Aí estão os tristes fatos de uma realidade que vem crescendo a cada dia em nossa cidade e em nosso país. Nos bairros mais pobres de São Paulo, a cada quarteirão encontramos 3, 4 e até 5 pequenos salões ou garagens alugadas e transformadas em “igrejas”, sob as mais variadas denominações. Reflita: se a intenção desses supostos líderes espirituais é “salvar almas para Cristo” (como gostam de afirmar), e se eles acreditam mesmo no protestantismo, porque então abrem novas “igrejas” ao lado de outras já existentes? Não seria mais simples e lógico incentivar a população a frequentar as comunidades já existentes? Óbvio que o objetivo destes verdadeiros empresários da fé não é espiritual, ao contrário. Cabe aos verdadeiros cristãos a tarefa de substituir a teologia da prosperidade pela Teologia do Amor e da Gratuidade, aquela ensinada por Nosso Senhor nos Evangelhos.

Vale a pena refletir sobre um fato ocorrido na vida de Madre Teresa de Calcutá. Conta-se que certo homem, ao vê-la cuidando das feridas de um doente, comentou que não teria coragem de fazer aquilo nem que fosse para ganhar um milhão de dólares. Diante disso, a resposta de Madre Teresa foi a seguinte: “Por um milhão de dólares eu também não faria. Faço por amor.”

Só pela gratuidade do amor vale a pena buscar a Deus. Só por amor faz sentido entregar a vida a Deus e assumir a vida cristã, com todas as suas alegrias e também com os seus desafios e obstáculos, como diz o Senhor: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a cada dia sua própria cruz e me siga” (Lc 9,23). Nunca, - jamais, - Jesus disse que seus seguidores abraçariam uma vida somente de alegrias e de prosperidade, livre de todos os problemas deste mundo. Nada, feito sem amor, tem valor para Deus: o sentimento que havia em Cristo era o de intima compaixão com os necessitados - jamais o de barganha, ou seja, ofertar para receber riquezas como pagamento. E se os defensores da teologia da prosperidade alegam se basear nas Escrituras Sagradas, a melhor maneira de concluir esta reflexão é com as afirmações diretas que a Bíblia contém a respeito da questão:

"No mundo, tereis aflições. (...) Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza e cobiça, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas." 
Jesus Cristo (Lc 12, 15 e Jo 16, 33)

“Se alguém ensina outras doutrinas e discorda da sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo, é orgulhoso e nada entende. Esse tal demonstra um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca de palavras, que resultam em inveja, brigas e atritos constantes, entre os que têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade pode ser uma fonte de lucro.” Apóstolo Paulo (1 Timóteo 6, 3-5)

"Aprendi a contentar-me com o que tenho." 
Paulo Apóstolo (Filipenses 4, 11)

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. (...) Se quiseres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos Céus. Depois, vem e me segue’. E o jovem, ouvindo estas palavras, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” 
Jesus Cristo (Matheus 6, 24 / 19, 21-22)

Quem tem olhos para ver, que veja a verdade... Mas não desanimemos. Nosso Deus tudo sabe e tudo vê, e um dia todos prestarão contas a Ele. Os erros existem, mas o certo existe também. Continue lendo e estudando a Palavra de Deus e ouvindo a voz da sua consciência. - continue buscando o verdadeiro caminho de Jesus Cristo. Conheça o Catecismo da Igreja Católica: busque, sempre e antes de tudo, a verdade.

Cartaz da Campanha da Fraternidade 2010

fonte: http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2001/01/adoracao-ou-tentativa-de-barganha-com.html

domingo, 7 de outubro de 2012

Techos da homilia do início do Sínodo dos Bispos

A Palavra de Deus nos coloca diante do crucificado glorioso, de modo que toda a nossa vida e, em particular, o compromisso desta assembléia sinodal, se desenrole presença d’Ele e à luz do seu mistério. A evangelização, em todo tempo e lugar, teve sempre como ponto central e último Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (cf. Mc 1,1); e o Crucificado é por excelência o sinal distintivo de quem anuncia o Evangelho: sinal de amor e de paz, chamada à conversão e à reconciliação. Sejamos nós, Venerados Irmãos, os primeiros a ter o olhar do coração dirigido a Ele, deixando-nos purificar pela sua graça.
A Igreja existe para evangelizar. Fiéis ao mandamento do Senhor Jesus Cristo, seus discípulos partiram pelo mundo inteiro para anunciar a Boa Nova, fundando, por toda a parte, comunidades cristãs. Com o passar do tempo, essas comunidades tornaram-se Igrejas bem organizadas, com numerosos fiéis.
Também nos nossos tempos, o Espírito Santo suscitou na Igreja um novo impulso para proclamar a Boa Nova, um dinamismo espiritual e pastoral que encontrou a sua expressão mais universal e o seu impulso mais autorizado no Concílio Ecumênico Vaticano II. Este renovado dinamismo de evangelização produz uma influência benéfica sobre os dois "ramos" concretos que desenvolvem a partir dela, ou seja, por um lado, a missio ad gentes, isto é, a proclamação do Evangelho para aqueles que ainda não conhecem a Jesus Cristo e a Sua mensagem de salvação; e, por outro lado, a nova evangelização, destinada principalmente às pessoas que, embora batizadas, se distanciaram da Igreja e vivem sem levar em conta prática cristã. A Assembléia sinodal que se abre hoje é dedicada a essa nova evangelização, para ajudar essas pessoas a terem um novo encontro com o Senhor, o único que dá sentido profundo e paz para a nossa existência; para favorecer a redescoberta da fé, a fonte de graça que traz alegria e esperança na vida pessoal, familiar e social.
A união do homem e da mulher, o ser «uma só carne» na caridade, no amor fecundo e indissolúvel, é um sinal que fala de Deus com força, com uma eloqüência que hoje se torna ainda maior porque, infelizmente, por diversas razões, o matrimônio, justamente nas regiões de antiga tradição cristã, está passando por uma profunda crise. Não é uma coincidência. O matrimônio está ligado à fé, não num sentido genérico. O matrimônio se fundamenta, enquanto união do amor fiel e indissolúvel, na graça que vem do Deus Uno e Trino, que em Cristo nos amou com um amor fiel até a Cruz. Hoje, somos capazes de compreender toda a verdade desta afirmação, em contraste com a dolorosa realidade de muitos matrimônios que, infelizmente, acabam mal. Há uma clara correspondência entre a crise da fé e a crise do matrimônio.
Os santos são os verdadeiros protagonistas da evangelização em todas as suas expressões. Eles são, em particular, também os pioneiros e os impulsionadores da nova evangelização: pela sua intercessão e exemplo de vida, atentos à criatividade que vem do Espírito Santo, eles mostram às pessoas, indiferentes ou mesmo hostis, a beleza do Evangelho e da comunhão em Cristo; e convidam os fiéis, por assim dizer, tíbios, a viverem a alegria da fé, da esperança e da caridade; a redescobrirem o «gosto» da Palavra de Deus e dos Sacramentos, especialmente do Pão da Vida, a Eucaristia. Santos e santas florescem entre os missionários generosos que anunciam a Boa Nova aos não-cristãos, tradicionalmente nos países de missão e atualmente em todos os lugares onde vivem pessoas não cristãs. A santidade não conhece barreiras culturais, sociais, políticas ou religiosas. Sua linguagem - a do amor e da verdade - é entendida por todos os homens de boa vontade e lhes aproxima de Jesus Cristo, fonte inesgotável de vida nova.
O olhar sobre o ideal da vida cristã, expressado na chamada à santidade, nos encoraja a ver com humildade a fragilidade de muitos cristãos, antes, o seu pecado, pessoal e comunitário, que se apresenta como um grande obstáculo para a evangelização; e nos encoraja a reconhecer a força de Deus que, na fé, vem ao encontro da fraqueza humana. Portanto, não se pode falar da nova evangelização sem uma disposição sincera de conversão. Deixar-se reconciliar com Deus e com o próximo (cf. 2 Cor 5,20) é a via mestra da nova evangelização. Só purificados, os cristãos podem encontrar o legítimo orgulho da sua dignidade de filhos de Deus, criados à Sua imagem e redimidos pelo sangue precioso de Jesus Cristo, e podem experimentar a sua alegria, para compartilhá-la com todos, com os de perto e os de longe.

Papa Bento XVI